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segunda-feira, 15 de setembro de 2014

Desperte a sua inteligência financeira

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Sabemos que Portugal, e a própria Europa, vivem um período complicado em termos de estabilidade financeira e de dificuldades em estimular o crescimento económico. No entanto, pode ser o período ideal para despertar a sua inteligência financeira. Para tal é necessário aperfeiçoar a capacidade crítica de observação e análise face às dificuldades com que nos deparamos no dia-a-dia.

Por SalFalko

A inteligência financeira não é mais do que a capacidade de observarmos oportunidades de cariz financeiro, onde comumente, os outros não as vêm. O objetivo principal é o de multiplicar os recursos existentes, como forma de colocar o dinheiro a trabalhar para nós e não o contrário. A ideia passa pela acumulação de activos que geram fontes de receita, e evitar passivos que são fontes de despesa. 

Pode parecer fácil, mas a maioria das pessoas não foi educada nem formada com este tipo de mentalidade racional e disciplinada. O resultado é que acabam na "corrida dos ratos", ou seja, caem com naturalidade na armadilha de trabalhar por dinheiro o resto a vida. Basicamente vão contrair um empréstimo para a casa, outro para o carro, e ter um, ou vários, cartões de crédito. 

Ainda caem frequentemente na ratoeira do cross-selling dos bancos como forma de obter taxas ligeiramente melhores (spread). Além disso é erro recorrente fazerem depósitos a taxas ridiculamente inferiores ao que pagam de juros em vez de reduzirem o endividamento, e só depois se preocuparem com a poupança. O melhor investimento, de risco zero, é o desendividamento.


O negócio da banca está assente nos “ratos”. Este tipo de pessoas vão passar toda a vida a pagar empréstimos e nunca vai conseguir sair da tal corrida em que se encontram. 


O ensino tradicional e a inteligência financeira


A tradicional formação escolar superior prepara profissionais aptos, alguns nem isso, para trabalharem por contra de outrem. Muitos cursos dispõem de uma cadeira de empreendorismo. No entanto, mais não é do que ensinar superficialmente a fazer um plano de negócios e discutir a análise de alguns case studies

Apesar de tudo falta aquilo que não se aprende num semestre. É preciso ter capacidade crítica e de análise para ver o que os outros não vêm. Para ter a ideia e capacidade para a materializar em algo sustentável e exequível de acordo com as nossas limitações. Isto é algo não se aprende de um dia para o outro, pois acaba por ser um estado de espírito e modo de vida permanente. 

É recorrente pessoas com elevada instrução superior não terem a mínima ideia nem conhecimento sobre como domíninar a inteligencia financeira. Apesar de ganharem muito, podem estar tão presos à "corrida de ratos" como alguém que ganha o salário mínimo.

Nesta prespectiva de independencia financeira, o que interessa não é quanto se ganha, mas sim quanto se poupa. Aliado à redução do endividamento, este é o primeiro passo para quem pretende sair da tal “corrida de ratos”.

Não é por acaso que são quase sempre as mesmas pessoas que abrem empresas, que multiplicam fortunas, que descobrem oportunidades e soluções onde os outros vêm apenas crise e problemas.

Este tipo de indivíduos adormece e acorda a fazer o seguinte exercício: onde posso ganhar mais dinheiro? Saem de casa e olham para as ruas, para os edifícios, para as pessoas, e aplicam a análise de: o que falta aqui, o que há aqui que me possa trazer ganhos e qual o custo de oportunidade? Vão a uma loja, pagam determinado preço, vêm determinada afluência, e depressa estão a fazer contas para perceber quanto fatura, o que está a ser mal feito e o que pode ser feito melhor.

Vêm uma casa à venda e rapidamente tentam perceber se está ali uma oportunidade. Negoceiam em multiplas frentes, calculam margens e rendibilidades, jogam com a necessidade dos que estão na "corrida de ratos" e têm um profundo conhecimento da área em que actuam. Especializam-se e procuram o contacto interpessoal com quem sabe mais que eles. Estão em permanente raciocínio financeiro. 


A inteligência financeira no dia-a-dia


Vamos imaginar o seguinte cenário de ficção, que talvez não o seja... O Daniel é um estudante deslocado que andou 5 anos a estudar em Lisboa. Optou por alugar um quarto perto da escola. Deste modo evitava pagar o passe de transportes, pudendo assim deslocar-se a pé para a escola. Todos os anos mudava de casa, pois era a única forma de não ter de pagar os meses do verão em que estava de férias e regressava a casa dos pais. 

Tinha especial cuidado em comprar livros usados e em acabar todas as cadeiras o mais cedo possível. Desta forma evitava pagar inscrições para segundas e terceiras fases ou novas matrículas. Como morava perto da escola podia fazer todas as refeições em casa, minimizar as perdas de tempo em transportes, greves, e evitar o stress associado. Podia ainda rentabilizar as horas de estudo. 

O Daniel via alguns colegas comprarem o traje mas como calculava que só o ia usar uma ou duas vezes, optou por não o adquirir. Explicações foi coisa que nunca teve. Não por ser um aluno excecional, mas porque ia às aulas e estudava. Mesmo assim foi o suficiente para acabar o curso com uma das melhores médias.

Começou a trabalhar mal acabou o curso. Viu que as oportunidades na área de formação de licenciatura eram poucas e precárias. Decidiu então tirar um mestrado em horário pós-laboral, noutra área. Procurava novos horizontes profissionais com maiores retornos financeiros e perspectivas futuras.

Desde sempre procurou partilhar casa, e mais uma vez, preocupou-se em que a habitação ficasse perto do local de trabalho. Fazia as refeições em casa, o passe de transportes continuava a ser dispensável e o carro também. O ginásio acabava por ser irrelevante para quem caminhava todos os dias 8KM. Decidiu acabar com a mensalidade.

Como não vê televisão, não dispõe de nenhum pacote de tv paga. A internet é dividida com o colega de casa. 

Ao fim de um ano decidiu mudar de emprego de forma a procurar subir o seu rendimento. Contudo manteve-se na mesma casa, pois deu preferência a uma procura activa junto de empresas perto da sua habitação. Subiu o ordenado em 30%, preferiu o subsídio de refeição em cartão devido aos menores descontos, e ainda negociou telemóvel da empresa em que o pudesse usar para fins pessoais. Ou seja, cortou com grande parte dos custos em telecomunicações.


Consegue ver neste exemplo alguma inteligência financeira?