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terça-feira, 3 de março de 2015

Os depósitos indexados são (quase) sempre uma má escolha

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Numa altura em que as taxas de juro andam por níveis historicamente baixos, as taxas oferecidas pelos depósitos a prazo tradicionais têm caído para níveis que muitas vezes nem cobre a inflação prevista para 2015. Este ponto agrava-se ainda mais na banca tradicional de retalho onde os produtos são frequentemente menos competitivos.

Os depósitos indexados são apresentados como alternativa por serem uma excelente forma de garantir ganhos para o banco, mas não para o cliente.

 
Sempre que se dirigir a um banco, quando perguntar ao seu gestor de conta um conselho de investimento, o mais certo em muitos casos é ignorar o que lhe foi sugerido. O gestor de conta não serve os seus interesses, mas sim os do banco.
Um depósito indexado significa que este tem a sua rendibilidade indexada a um cabaz de outros produtos financeiros, frequentemente ações, indices bolsistas, matérias primas, etc.

É ainda comum terem capital inicial garantido, tanto pelo banco, como pelo Fundo de Garantia de Depósitos, serem não mobilizáveis, e alguns, apresentarem rendibilidade mínima. Não se esqueça no entanto de consultar a ficha de informação normalizada do produto em questão.

Lembre-se que apesar de terem o capital inicial garantido, ou uma rendibilidade mínima, isto não significa que o cliente não esteja a perder dinheiro, pela via da inflação, e o banco a ganhar.

Apresento o seguinte exemplo para desmistificar o funcionamento deste tipo de produtos. 

  1. O cliente pretende, ou é convencido pelo gestor de conta, a aplicar 40.000€ num depósito estruturado. 
  2. O banco aplica um montante necessário num produto de risco próximo do "nulo", de forma a garantir o capital inicial a pagar ao depositante findo o prazo do depósito indexado. Como exemplo, concede um empréstimo bancário com 37.000€, que ao fim do depósito garante os 40.000€ a reembolsar. 
  3. Sobra ao banco 3.000€, dos 40.000€, para investir em produtos financeiros de renda variável, no caso, poderá ser ações de algumas empresas. 
  4. O banco já garantiu o reembolso do montante inicial, ou do montante inicial + TANB mínima, e agora tudo o que vier da aplicação destes 3.000€ é lucro. 
  5. Bancos tradicionais, como a CGD, tratam de reunir condições especificas, e complexas, para garantir o seu ganho, que por consequência limita os do cliente. 
  6. A TANB apresentada ao cliente é a máxima, e apenas conseguida em condições muito particulares e raras. O banco muitas vezes apenas paga a TANB mínima, caso esta exista. Caso contrário apenas efetua o reembolso do montante inicial.
  7. É frequente o banco apenas pagar acima da TANB mínima no caso de todas as ações estarem positivas no fim do ano, face ao valor de inicio desse mesmo ano, ou do inicio do produto. 
  8. O banco, como é obvio, trata de encontrar ações de áreas não correlacionadas para assim garantir que quando uma empresa desce, outra, desse mesmo cabaz, sobe. 
  9. Deste modo a probabilidade de alguma das empresas estar negativa num dado ano é alta. Assim o banco salvaguarda-se, tanto do mercado, pois se uma empresa perde, outra ganha, como do pagamento ao cliente de TANB máximas, pois viola uma das regras do "jogo" de nenhuma estar a perder em nenhuma condição.
  10. Concluímos portanto, que o banco trata de garantir a sua rendibilidade e remete para plano secundário os interesses do cliente.
  11. Por vezes estas condições ainda são mais complexas de entender. 

Agora, a parte mais interessante, os bancos vão alterando as regras como bem lhes apetece. Isto é, fazem n combinações, difíceis até de perceber, para cada depósito indexado. Por alguma razão estamos a falar de um produto financeiro complexo.

Se ainda assim pretende aplicar o seu dinheiro, o Invest é tido como sendo um dos melhores bancos neste tipo de produtos. No entanto também ele tem vários reembolsos com TANB 0% ou abaixo de 2%

Cabe-lhe a si analisar as empresas ou indices, os riscos de ter o capital parado, e de perceber o produto que subscreve. 

Eu pessoalmente, olho com muita reserva para estes produtos, pois a probabilidade de obter rendibilidade nula em alguns casos é acima de 70% e a complexidade associada não corresponde ao retorno expectável na grande maioria dos casos.