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quarta-feira, 17 de setembro de 2014

A diferença entre perdas potenciais e reais e conceitos complementares

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Para se lidar com produtos financeiros é fundamental entender as diferenças entre o que são perdas potenciais e reais. Torna-se ainda necessário dominar conceitos como fechar e abrir posição, drawdown, stop loss, cut-off time, market timing ou buy&hold.

Por  Ken Teegardin
Quando procuramos investir em determinado ativo, como por exemplo um fundo, ações ou obrigações temos de começar por abrir uma posição. Para tal recorremos a um intermediário financeiro. Existem diferentes formas e estratégias para determinar em que momento entrar em determinado ativo. 


Seja por falta de controlo emocional, ou por desconhecimento, é frequente investidores inexperientes terem a sua tomada de decisão afetada pelas perdas momentâneas. Quer isto dizer que tornam perdas potenciais em reais. Para tal fecham a posição previamente aberta, mas com saldo negativo entre a cotação de abertura e de fecho. 

Não é fácil saber que se está a perder dinheiro em determinado momento, e muitas vezes na flor da emoção corre-se para o refúgio do fecho de posição à mínima perda, que poderá ser recuperável. 

São pessoas que não estão com disponibilidade emotiva para conviverem com perdas, ainda que potenciais. Assim sendo, se a pessoa tiver inicialmente definido uma estratégia objetiva, concreta e bem delineada, deve mante-la até ao fim e nesse momento fazer o balanço.

Em todo caso, uma estratégia deve estar preparada para ter em conta certas particularidades, relembrando que rentabilidades passadas não são garantia de rentabilidades futuras. Deverá responder às seguintes questões. Qual o meu perfil de risco? Qual o nível de perdas que aceito até resgatar, mesmo num período de profunda crise? Quanto aceito de perda máxima diária? Qual o período de exposição? Qual o stop loss mental que defini?

Estas são algumas das perguntas que deve colocar a si mesmo num momento prévio ao investimento. Contudo, relembre-se que de nada serve estabelecer um plano se não tiver capacidade para o cumprir. Controlo emocional, disciplina e rigor é fundamental. 

Caso não tenha um plano, ou não o cumpra, facilmente pode cair no erro de não assumir as perdas em nenhum momento, perdendo totalmente o controlo da situação. Rapidamente vêm à ideia aqueles investidores que estão há vários anos, e vão ficar, ad eternum, literalmente entalados em ações da PT ou do BCP com prejuízos irrecuperáveis. 

Além disso, enquanto não assumirem a perda, estão também a ter o custo de oportunidade noutros investimentos. No extremo temos o exemplo dos acionistas do recente caso BES, que como é sabido, ficaram também eles com prejuízos irrecuperáveis.


Exemplo de um drawdown máximo
Ser disciplinado e rigoroso é então uma das regras para evitar drawdowns para os quais não está preparado, pois recuperar capital perdido é extremamente mais difícil do que preservá-lo. Entende-se por drawdown como uma medida de prejuízo percentual a partir de um valor máximo até ao valor mínimo durante um certo período de tempo. 

Quanto maior for a perda maior será o drawdown, e quanto mais recorrentes, menores o retornos compostos. Por sua vez o drawdown máximo representa em termos históricos a maior perda atingida em determina carteira ou ativo financeiro. 

Perdas e montantes percentuais para atingir o breakeven
Quanto maior o drawdown maior o esforço em recuperar para o breakeven. Ou seja, um ponto de equilíbrio em que não existe nem ganho, nem perda. 

Relembre-se que uma das principais regras de Warren Buffet é nunca perder dinheiro devido precisamente aos drawdowns e à dificuldade em recuperar das perdas. 

Imaginando que tem 100€, sofre uma perda de 50%, fica com 50€. Para voltar a ter os mesmos 100€ precisa agora de ter ganhos de 100%!

Outro conceito que é necessário entender denomina-se cut-off time. Este indica o fim do dia de negociação em curso e o início de um novo dia de negociação. Refira-se que em determinado tipo de produtos financeiros o cut-off time pode não coincidir com o próprio dia. Exemplificando. 

Um fundo de investimento que tenha o cut-off time de 11:00:00h e que esteja fortemente associado a um índice que nesse dia está a ter perdas de grande ordem. Neste caso tem até às 11h para fechar o fundo e ficar com a cotação do dia anterior e assim evitar as possíveis perdas desse dia. 

Por fim há ainda dois tipos fundamentais de estratégia, que podem funcionar complementarmente ou de modo independente. Uma opta pelo market timing (mais ou menos agressivo, consoante o tipo de gestão ativa) e outra pelo buy&hold

O primeiro refere-se a um tipo de estratégia que exige dedicação e acompanhamento permanente dos ativos. Há normalmente um maior stress associado devido à pressão de resultados. É ainda suscetível de ocorrer um maior número de erros, pois aquilo que se procura é bater os índices da categoria. Procura-se encontrar oportunidades pontuais, que só fazem sentido em determinada situação que carece de análise para avaliar a sua atratividade e potencial de retorno em dadas circunstâncias.

A estratégia de buy&hold será à partida a mais indicada para pessoas inexperientes. Neste caso escolhe-se uma carteira para determinado tipo de perfil, determina-se a alocação de ativos de acordo com esse mesmo perfil, cumpre-se o prazo recomendado e espera-se. É também conhecido como lazy portefólio. 

A manutenção deste tipo de portfólios refere-se apenas à realocação periódica das percentagens inicialmente definidas. É possível ter este tipo de estratégia através de fundos de investimento, ou então replicando mesmo os índices nomeadamente através de ETFs. Estes normalmente justificam-se quanto maior for o prazo, devido aos baixos custos associados.